Por
que você faz o que faz?
Uma
pergunta um tanto quanto capciosa, mas que revela nossas mais íntimas
emoções e intenções. Sim, por detrás de cada decisão que
tomamos (onde vamos trabalhar, morar, com quem vamos nos relacionar,
dizer sim ou não, etc) está o nosso mais profundo desejo de
corresponder às nossas reais e profundas intenções.
Penso
que este é o grande calcanhar de Aquiles da humanidade: deixar de
compreender e aceitar as consequências das nossas escolhas, deixando
a culpa para outras pessoas, ou mesmo sistemas corporativos e
econômicos. Já reparou como nos falta a capacidade de dizer “eu
sou culpado!”? Ou ainda de assumir que no mais íntimo do nosso
ser, até mesmo na religiosidade, estamos lidando com nossas emoções
e intenções. Permita-me dar um exemplo do que estou afirmando: se
alguém diz que ajuda outra pessoa porque sente-se bem ao fazer isto
qual é real intenção, e quando digo real quero dizer aquela
narcisista sensação de que tenho de pensar em mim? Por mais
altruísta que tal atitude pareça a real intenção não é ajudar,
mas sim sentir-se bem.
Fazemos
o que fazemos pensando em nosso umbigo, pensando em como podemos
fugir ou encarar os nossos problemas. Assumimos responsabilidades
porque compreendemos que, em algum momento, podemos colocar a culpa
em alguém, e assim dormir tranquilamente o sono dos “justos”.
Ah, sim, queremos ser justos, mas apenas com nós mesmos. Queremos
cultuar o nosso próprio ser e chamá-lo de deus, uma alcunha que se
torna existencial e fundamental para os nossos dias. Se eu sou meu
deus, logo não busco um interesse natural em ter uma adoração por
uma divindade, aliás, assim é possível afirmar que Nietzsche
estava certo ao afirmar que “Deus está morto, pois os homens o
mataram em seus corações”. Posso até dar a desculpa de que faço
boas obras ou pratico atos de “santidade” como uma finalidade
religiosa. Mas volto, novamente, para a pergunta em questão: “Por
que você faz o que faz?”. Se você busca um culto religioso por
medo do inferno então o interesse não é adoração, mas sim
agarrar-se a um bote salva-vidas para salvar-se a si próprio. Se
você busca seguir regras para santificar-se querendo alcançar uma
forma de paraíso então você quer subir degraus que levam você a
um lugar de proteção, um lugar onde você se protege. Consegue
perceber como a linha da salvação do ser humano passa em
compreender “por que você faz o que faz?”
Na
caminhada de fé temos de nos deparar com várias decisões e formas
religiosas de seguir a vida. Isto é natural! Faz parte da nossa
caminhada ter de decidir, de escolher, mas também de ter as
consequências das nossas escolhas. Se plantamos vento, como diz o
dito popular, então não colheremos nada além do resultado do
vento: ventanias, tempestades e assim por diante.
Por
que você, realmente, acorda pela manhã? O que te faz tomar um
impulso para gerar atitudes, para planejar, para caminhar? Por que
você faz o que faz?
Minha
ideia com este texto não é te dizer que não há esperança (eu
seria um louco se assumisse tal postura!), também não é te dizer
que você não é importante, mas é propor uma autoanálise: será
que as decisões que você toma são para desenvolver formas de
relacionar-se desinteressadamente com outras pessoas ou para
satisfazer o seu ego? Será que o teu relacionamento com Deus é
apenas para fugir do medo e das penas da Lei ou é para aceitar o
caminho da Graça (e que isto não vem da humanidade, mas sim do
próprio Deus!)?